Páginas

Sarah McLawler


Devido a problemas orçamentários – parece que alguns redatores do Jazzseen estão em greve por melhores salários – John Lester me pediu para fazer o Elas Também Tocam Jazz de setembro. Confesso que antes de ler essas resenhas no Jazzseen, eu nunca havia refletido detidamente sobre como o jazz sempre foi esmagadoramente dominado pelos homens, e como essa dominação refletia o estado geral de opressão imposto às artistas, entre elas as musicistas do jazz. As condições históricas da primeira metade do século XX condenavam as mulheres a cantar e, em alguns poucos casos, a tocar o piano. Na verdade, são raríssimos os casos de mulheres líderes de conjuntos de jazz. Lembro como se fosse hoje daquela noite de verão em Manhattan. Estávamos em 2002 e, convidado por uma amiga para jantar no Chez Josephine, na Rua 42, foi assim que conheci a pianista Sarah McLawler. Ela, além de dominar o piano e o órgão, também cantava convincentemente.




Apesar da decoração afetada e exótica do restaurante, a noite não poderia ter sido melhor para um amante do jazz e do vinho. Mais tarde, conversando com Sarah após o show, descobri que ela nasceu em Louisville, Kentucky, em 1928. Aos sete anos, começou a tocar piano de ouvido e, em pouco tempo, já estava tocando na igreja Batista onde seu pai era pastor, daí a forte influência do gospel em sua música. Logo em seguida, Sarah formou-se em música, adquirindo uma sólida formação, coisa não muito comum para os músicos de jazz da época. Mudando-se para Chicago na década de 1940, foi por lá que seu interesse pelo jazz se acentuou, sobretudo quando ouviu Earl Hines tocando num hotel onde seu cunhado trabalhava. Continuando os estudos, dessa vez na Fisk University, Sarah começa a tocar em público, seja em piano solo, seja em trio ou em seu quarteto só de mulheres. Durante cinco anos Sarah liderou o Syncoettes, com Lula Roberts (ts), Vi Wilson (b) e Hetty Smith (d). Encorajada por Wild Bill Davis, Sarah passou a tocar o Hammond B3 em clubes do Brooklyn e, com o sucesso, chegou a tocar no Apollo Theatre, o mais famoso clube do Harlem.


Segundo confirmei com John Lester, Sarah continua tocando regularmente em New York (Chez Josephine e Novotel) e participando de festivais, como o de Newport, Newark e o Big Apple Jazzwomen. Apesar de hoje ser mais conhecida como organista, seu estilo ao piano é sutil, econômico e repleto de swing. Para os amigos navegantes, deixo a faixa Love Sweet Love, gravada em 1952 para a Vee Jay (King). Até a próxima!

LoveSwee.mp3

Beryl Booker


Sim, ela nunca estudou música, nem mesmo aprendeu a ler partituras. Beryl Booker nasceu na Philadelphia de 1922 e decidiu tocar o piano por conta própria. Na década de 1940 já liderava seus próprios conjuntos, entre eles um trio formado somente por mulheres. Sua associação com Slam Stewart foi proveitosa e duradoura, intercalada por outros trabalhos, como seu período com Dinah Washington, suas apresentações no Embers de New York e suas turnês pela Europa. Proprietária de um swing nato, Beryl também era capaz de improvisar de forma totalmente convincente, como podemos ouvir no excelente álbum Lady Love, gravado com Billie Holiday num concerto em Cologne. Apesar de tudo, morreu totalmente anônima. Mas John Lester gosta dela e não quer que ela seja esquecida. Para os amigos navegantes fica a faixa Oops My Lady, gravada em trio com suas amigas Mary Osborne (g) e June Rotemburge (b). Elas merecem.

Deborah Henson-Conant

.
Não sabemos muito sobre a moça. O que tenho dela é um cd denominado ‘Round The Corner, lançado pela Laika em 1993. Nele estão vários standards gravados em 1987 que permaneceram engavetados, mesmo tendo recebido vários elogios, entre eles o de Dave Brubeck. Na resenha do álbum, feita por Ken Franckling, lemos que se você nunca ouviu uma harpa swingar, compre esse álbum de Deborah. Não há dúvida de que, pelos dedos da moça, a harpa se torna um veículo perfeito para o jazz, repleto de excelentes improvisos e muita cor musical, tudo com aquela delicadeza firme das mulheres. Nesse álbum você pode ouvir Georgia On My Mind, Take Five, Over The Rainbow, Summertime, entre outros clássicos. Embora Deborah tenha iniciado, aos dez anos, estudos de piano clássico, aos 13 já tocava a harpa, seu instrumento principal desde a faculdade. Se interessando cada vez mais pelo imrpoviso, Deborah se entrega totalmente ao jazz em 1982. Em 1983 resolve amplificar sua harpa e fazer experimentações. De lá pra cá tem gravado excelentes álbuns, até que, em 2007, foi indicada ao Grammy com o álbum Invention & Alchemy.


Em seu blog (clique aqui para visitá-lo)Deborah diz: “I'm Deborah Henson-Conant, Grammy-nominated harpist, singer, songwriter, composer, author, cartoonist, entertainer and comedian...among other things. Music, for me, is a way to tell a story and no story, in my mind, is complete without its music. I did the jazz thing in the late 80s and since then I established my own performance genre that mixes Latin Jazz, Celtic, Blues, Flamenco, Folk-Pop and Spoken Word. I hear that people have fun at my shows. I hear that they never look at the harp the same way again. I hear they're inspired by whatever it is that I do on stage, which I haven't quite figured out the language for yet. Basically, I write and perform one-woman shows. Sometimes I perform them by myself at small music venues and comedy joints. Sometimes I perform them with a full symphony orchestras in giant concert halls...and this one time I put it all on DVD! The Grammy-nominated "Invention & Alchemy," MY NEW DVD & CD with Conductor David Lockington and the Grand Rapids Symphony is AVAILABLE NOW AT MY WEBSITE--where you'll also find my tour schedule, publicity materials, project info, stories, cartoons and other goodies”.

Para os amigos navegantes comemorarem o Dia Internacional da Mulher, deixo a seguir a faixa ‘Round The Corner sob os cuidados de Deborah Henson-Conant. Parabéns a todas as mulheres.